O
fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, alterou significativamente o cenário
internacional, com a divisão do mundo em dois blocos político-militares
liderados pelas duas superpotências emergentes: EUA e URSS. O esforço de ampliação da área de influência econômica,
política e ideológica dos EUA implicou o estímulo à penetração da cultura
norte-americana não só em países latino-americanos como o Brasil - na verdade,
esse processo já se iniciara aqui desde os tempos da guerra, com o alinhamento
do Brasil aos EUA -, mas também na Europa. Reforçado pela prosperidade
econômica norte-americana no pós-guerra, difundia-se em todo o mundo ocidental
um espírito de otimismo e de esperança, um novo modo de viver propiciado pela
produção em massa de bens manufaturados de uso pessoal e doméstico.
No Brasil, essas transformações foram se consolidando ao
longo da década de 1950, e alteraram o consumo e o comportamento de parte da
população que habitava os grandes centros urbanos. A paisagem urbana também se
modernizava, com a construção de edifícios e casas de formas mais livres, mais
funcionais e menos adornadas, acompanhadas por uma decoração de interiores mais
despojada, segundo os princípios da arquitetura e do mobiliário moderno.
Através da propaganda veiculada pela imprensa escrita, é possível avaliar a
mudança nos hábitos de uma sociedade em processo de modernização: produtos
fabricados com materiais plásticos e/ou fibras sintéticas tornavam-se mais
práticos e mais acessíveis. Consolidava-se a chamada sociedade urbano-industrial,
sustentada por uma política desenvolvimentista que se aprofundaria ao longo da
década, e com ela um novo estilo de vida, difundido pelas revistas, pelo cinema
- sobretudo norte-americano - e pela televisão, introduzida no país em 1950.
A
consolidação da chamada sociedade de massa no Brasil trouxe consigo a expansão
dos meios de comunicação, tanto no que se refere ao lazer quanto à informação,
muito embora seu raio de ação ainda fosse local. O rádio cresceu no início dos
anos 50, quando houve um aumento da publicidade. As populares radionovelas, por
exemplo, tinham como complemento propagandas de produtos de limpeza e toalete.
Na televisão, a publicidade não se limitava a vender produtos, e as próprias
empresas eram produtoras dos programas que patrocinavam. Houve um aumento da
tiragem dos jornais e revistas, e popularizaram-se as fotonovelas, lançadas no início da década. O cinema e o teatro também participaram
desse processo, tanto do lado das produções de caráter popular quanto das
produções mais sofisticadas. No caso do cinema, as populares chanchadas,
comédias musicais produzidas pela Atlântida, empresa criada nos anos 40,
tiveram seu auge nos anos 50, e seus atores foram consagrados pelo público. O
teatro de revista, que também misturava humor e música, fazia bastante sucesso.
Apesar de originárias da década de 1940, as experiências tanto de um cinema
industrial, como foi o caso daquele produzido pela Vera Cruz, quanto de um
teatro menos popular, como o do Teatro Brasileiro de Comédia, ainda perduraram
ao longo dos anos 50.
Se
o otimismo e a esperança implicaram profundas alterações na vida da população
em todo o mundo, permitindo, não a todos, mas a uma parcela - os setores médios
dos centros urbanos -, consumir novos e mais produtos, por outro lado, a
vontade do novo trazia embutido, em várias áreas da cultura, o desejo de
transformar a realidade de um país subdesenvolvido, de retirá-lo do atraso, de construir
uma nação realmente independente.
O
entusiasmo pela possibilidade de construir algo novo implicou o surgimento e/ou
o impulso a vários movimentos no campo artístico. Eram novas formas de pensar e
fazer o cinema, o teatro, a música, a literatura e a arte que se aprofundavam, como revisão do
que fora feito até então. Em alguns casos, consolidou-se um movimento que já se
iniciara em décadas passadas. Mas outros movimentos nasceram exatamente naquele
momento e se tornaram marcos e/ou referências de renovações estéticas que
viriam a se firmar mais plenamente depois. Guardando suas especificidades, e em
graus diferenciados, tanto o cinema, quanto o teatro, a música, a poesia e a
arte, movidos pela crença na construção de uma nova sociedade - fosse ela industrial,
fosse ela centrada na valorização do elemento nacional e popular - abraçavam
expressões artísticas e estéticas inovadoras que vinham sendo praticadas não só
em outras partes do mundo, mas também no próprio país. Essa foi, em linhas
gerais, a marca do processo de renovação estética em curso ao longo da década
de 1950. Por outro lado, o vigor do movimento cultural encontrava eco junto a
setores das camadas médias urbanas em franca expansão, sobretudo
universitárias, sintonizadas com o espírito nacionalista da época, e com a
crença nas possibilidades de desenvolvimento do país.
A
identificação dos chamados "anos dourados" com o espírito otimista
que consagrou o governo Kubitschek acabou, assim, por englobar todo um conjunto de mudanças
sociais e manifestações artísticas e culturais que ocorreram dentro de um
debate mais geral sobre a reconstrução nacional, em curso desde o início dos
anos 50 até os primeiros anos da década seguinte.
Fonte: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Sociedade/Anos1950
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